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O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (20) para discutir a taxa básica de juros, hoje em 13,25% ao ano. O mercado aposta que o BC deve manter o ritmo atual e anunciar um novo corte de 0,5 ponto percentual, levando a Selic a 12,75% — o menor patamar desde junho de 2022, quando também estava em 12,75%.
Juros devem cair 0,5 ponto; por quê?
Inflação dá sinais positivos, mas futuro ainda preocupa. Embora o IPCA tenha surpreendido no último mês, a expectativa do mercado é de que a inflação termine o ano em 4,86%, segundo o último Boletim Focus. O índice está acima da meta para 2023, que é de 3,25% (com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo).
Há dúvidas se o governo vai conseguir cumprir a meta fiscal em 2024. Especialistas veem o andamento do arcabouço fiscal e da reforma tributária como ponto favorável ao corte nos juros, mas ainda questionam a capacidade do governo de diminuir os gastos e aumentar a arrecadação. Segundo Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, as despesas previstas para 2024 estão "subestimadas".
Alta do petróleo no exterior pressiona combustíveis no Brasil. Os recentes dados econômicos da China e as expectativas de restrição da oferta global de petróleo fizeram o preço do barril disparar no mercado internacional. Essa alta pode levar a um aumento dos combustíveis no Brasil, o que impactaria a inflação nos próximos meses. Isso também desencoraja cortes mais agressivos nos juros, segundo analistas.
Houve avanços em aspectos importantes, como a inflação de serviços. Mas acreditamos que essa melhora já estava incorporada ao cenário do BC. Neste sentido, esperamos manutenção do ritmo de cortes em 0,5 ponto até pelo menos o início do próximo ano.Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset
Apesar da melhora na inflação de serviços, parece cedo para dizer que ela é mais benigna do que a esperada. Além disso, ainda há risco de não cumprimento das metas fiscais para 2024. O ritmo atual [de cortes] deve prevalecer nesta e nas próximas reuniões.Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores
Outra preocupação que os membros do Copom podem levar em consideração são os dados recentes da China, que pressionam as commodities, como o petróleo. Isso pode refletir em uma alta do preço dos combustíveis no Brasil.Bruna Centeno, sócia e economista da Blue3 Investimentos
O que disse o BC e o que vem à frente
Em agosto, BC sinalizou perspectiva de novo corte de 0,5 ponto. Na última reunião, quando anunciou a redução da Selic para 13,25% ao ano, o Copom antecipou que os próximos reajustes devem vir "na mesma magnitude". "A decisão desta quarta já está precificada pelo mercado", diz Ana Paula Carvalho, sócia da AVG Capital.
Melhora no quadro inflacionário motivou início do corte nos juros. A desaceleração dos preços, segundo o Copom, permitiu "acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária". O BC também citou a possível desaceleração da economia nos próximos trimestres.
Decisão deve ser unânime, diferentemente da última reunião. Em agosto, a decisão pelo primeiro corte de 0,5 ponto nos juros venceu por um placar apertado, com cinco votos favoráveis — incluindo o de Roberto Campos Neto, presidente do BC — e quatro contrários. Desta vez, a nova redução deve ser unânime, de acordo com a XP.
Selic deve encerrar 2023 em 11,75%, segundo projeções. O mercado discute agora as chances de o BC acelerar a redução dos juros nas próximas reuniões e quando será o fim do ciclo de cortes, que tende a coincidir com o chamado juro neutro. É o patamar em que a economia cresce com seu maior potencial, com a inflação sob controle.
Os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.Copom, em comunicado divulgado em 2 de agosto
Não vejo um motivo para acontecer uma decisão diferente disso [corte de 0,5 ponto]. O BC está olhando de perto as novas incertezas fiscais em torno da capacidade do governo entregar a meta fiscal do próximo ano e as projeções de inflação para 2024 e 2025.Ana Paula Carvalho, sócia da AVG Capital
O cenário externo trouxe mais incertezas, com a recente alta do petróleo e a expectativa de juros maiores por mais tempo nos Estados Unidos. Por isso, um aumento no ritmo dos cortes para 0,75 ponto ficou mais improvável no curto prazo.Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter
Com juros em queda, o que muda?
Juros menores barateiam o crédito, favorecendo o consumo. Um corte na Selic, ainda que pequeno, tem reflexo nas taxas cobradas por bancos e lojas, o que ajuda a impulsionar o consumo das famílias. Esse efeito não é imediato, e os impactos mais relevantes serão sentidos pela população ao longo do tempo.
Com mais crédito, famílias têm alívio no orçamento. A Selic é chamada de taxa "básica" justamente porque serve como referência para outros juros do mercado, como os cobrados em empréstimos e financiamentos. Ou seja: quem vai financiar um carro ou um imóvel, por exemplo, pode ter um "respiro".
Corte nos juros pode estimular a geração de empregos. Quando os juros estão altos, o custo de operação de uma empresa também é maior, o que desestimula investimentos e contratações. À medida que a Selic cai, empresários ficam mais dispostos a tomar riscos para crescer e, consequentemente, gerar empregos.
A longo prazo, juros menores reduzem gastos com a dívida pública. Segundo indicadores do próprio Banco Central, cada 1% da Selic representa um acréscimo de quase R$ 36 bilhões para a dívida pública do Brasil.
Investimentos de risco, como ações, tendem a ser mais buscados. No longo prazo, a contínua redução dos juros torna menos atrativos os investimentos em renda fixa, como títulos do Tesouro, CDB e LCI. Isso pode gerar uma migração para ativos mais arriscados, como ações e renda variável.
Via / Uol.com.br
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