Imagem /Raphael Ribeiro/BCB.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (3) e deve manter a taxa básica de juros da economia estável em 13,75% ao ano. Essa é a projeção de analistas do mercado financeiro.
Se confirmada, será a sexta manutenção da taxa Selic nesse nível. Esse é o maior patamar dos juros desde novembro de 2016, ou seja, em seis anos e meio. A decisão do Banco Central será anunciada por volta das 18h30.
A expectativa da maior parte dos analistas do mercado financeiro, consultados pelo Banco Central na semana passada, é de que a taxa comece a recuar somente em meados do mês de setembro.
Debate sobre juros
A reunião do Copom desta semana será realizada em meio a um intenso debate sobre o nível da taxa básica de juros da economia. O juro brasileiro é a maior taxa real do mundo.
Na semana passada, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, debateram o tema no Senado Federal. O chefe do BC também participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado na última semana.
E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuou disparando fortes críticas ao patamar da taxa básica da economia, por conta do impacto no nível de atividade e de emprego.
Chefiado por Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o Banco Central possui autonomia operacional para definir a política monetária com objetivo de controlar a inflação.
No Senado, o ministro Fernando Haddad mostrou preocupação com a desaceleração da economia, por conta também da alta dos juros, e disse que isso pode gerar problema nas contas públicas, por conta do impacto na arrecadação.
"Se a economia continuar desacelerando, por razões ligadas à política monetária [taxa de juros alta, fixada pelo Banco Central], vamos ter problemas fiscais, porque a arrecadação vai ser impactada. Não tem como separar. Se desacelero a economia, vou ter impactos fiscais", afirmou Haddad, na ocasião.
Já o presidente do Banco central disse que o Copom, colegiado que define a taxa de juros, atua de forma técnica e avaliou que a inflação continua alta no país.
"A inflação de curto prazo tem caído, mas muito lentamente, e os núcleos [que desconsideram fatores temporários] continuam altos. Esse último número que saiu, ficou um pouco acima", afirmou.
Segundo ele, o aumento da inflação prejudica, principalmente, os mais pobres. Campos Neto afirmou, ainda, que o combate à inflação é a melhor política social que existe, e destacou que o desequilíbrio das contas públicas contribui para a alta dos juros.
Em sua visão, a taxa de juros é alta no Brasil por conta do atual nível de endividamento – considerado elevado para o padrão de países emergentes.
Como o BC define os juros
A taxa de juros é o principal instrumento do Banco Central para tentar conter as pressões inflacionárias no país. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic.
Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia.
Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação do próximo ano, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
Para 2023, a meta de inflação foi fixada em 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
A meta de inflação do próximo ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Em doze meses, até março, a inflação oficial somou 4,65%. O grande destaque foi aumento da gasolina, que subiu 8,33% no mês passado. Para os anos de 2023 e 2024, o mercado estima que o IPCA somará 6,05% e 4,18%.
Consequências de juros altos
De acordo com especialistas, juros elevados têm vários reflexos na economia, entre os quais:
Aumento das taxas bancárias: a tendência é que novos aumentos também sejam repassados aos clientes. Em 2022, os juros bancários subiram 8,2 pontos percentuais, mais do que o aumento registrado na Selic.
Redução do consumo da população e nos investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Em 2022, o PIB cresceu 2,9%, abaixo da expansão de 5% registrada no ano anterior.
Despesa adicional com juros da dívida pública: em 2022, a despesa com juros somou R$ 586 bilhões. Na porcentagem do PIB (5,96%), é o maior patamar desde 2017. Juros altos pressionam a dívida pública que, se muito elevada, pode interferir nos investimentos.
Aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, passam a render mais: em 2022, as vendas de títulos públicos por meio do Tesouro Direto bateram novo recorde.
Via / G1
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