O que falta para o Brasil alcançar os Estados Unidos no milho?

O que falta para o Brasil alcançar os Estados Unidos no milho?

Nas últimas décadas, o Brasil evoluiu rapidamente em índices de produção e produtividade em diversas cadeias. Hoje, o país é referência mundial em soja, frango, laranja, café, peixe, carne bovina, entre outros alimentos, quase sempre em uma disputa acirrada pelo posto de maior produtor mundial com os Estados Unidos (EUA). Mas a ausência do milho nesta lista chama atenção, ainda mais por ser um produto crucial para a agroindústria brasileira. Então, a pergunta que precisa ser respondida é como os níveis de produção e produtividade brasileiros e norte-americanos são tão díspares?

Para se ter ideia da diferença abismal entre as duas potências mundiais, enquanto a produção média nos Estados Unidos ficou em 175 sacas por hectare na safra 2019/20, a média no Brasil fechou em 92 sacas por hectare. Ainda, a produção por lá chegou a quase 346 milhões de toneladas, enquanto os brasileiros colheram 102 milhões de toneladas. Mesmo considerando a área dedicada à cultura, 33 milhões de hectares nos EUA contra 18,5 milhões no Brasil, a diferença impressiona.

Inúmeras particularidades explicam os altos índices de produtividade obtidos no país da América do Norte, a começar pela tradição no consumo do cereal aliado à aplicação da ciência no melhoramento genético (ver gráfico nas páginas 20 e 21).

“Nos EUA, usavam-se variedades de polinização aberta até 1930. Depois disso, pesquisas levaram a usar híbridos simples, duplos e triplos. Passou-se rapidamente para produtividades bem maiores no contexto daquele país”, explica o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo, Lauro José Moreira Guimarães.

Ainda, é preciso lembrar que há uma forte identificação cultural americana com o cultivo do milho. Os nativos americanos, em especial da América Central, cultivavam o cereal antes da chegada dos europeus. “Os Estados Unidos sempre tiveram incentivos e estímulos para produção e melhora da produtividade. Hoje, eles têm um concurso para eleger qual fazendeiro tem melhor rendimento por área”, cita João Pedro Lopes, analista de inteligência de mercado da StoneX.

O pesquisador da Embrapa enfatiza que a partir da transição de um cultivo menos tecnificado para o uso dos primeiros híbridos, nos anos 1930, o milho cultivado em território norte-americano passou a responder melhor ao uso de tecnologia nas lavouras. Algo que só entraria com força nas plantações brasileiras a partir dos anos 1970. “No Brasil, historicamente, temos o milho associado a uma agricultura de subsistência, de pequenas lavouras cultivadas de forma incipiente em termos de tecnologia e também em termos de sementes”, completa Guimarães.

 

Fonte: Federação da Agricultura do Estado do Paraná - FAEP